domingo, 27 de junho de 2010

Inesgotável pensamento:


Acalma-me a ideia de estar debaixo de água, sem me mexer.
Sem noção do corpo do Mundo.
Sem pressa.
Sem preocupações.

Foi a esta ideia que recorri quando soube que se esqueceram de processar o meu subsídio de férias no "mundo da moda". E que tenho o IRS para pagar até ao fim do mês. E que furtaram um computador no "mundo criativo" e tenho de fazer 36 autos de ocorrência internos nos próximos dois dias, existindo a forte possibilidade de alguém ser despedido depois. E que o meu melhor amigo afinal não é tão meu amigo. E que os familiares que praticamente não me conhecem resolveram opiniar sobre o meu futuro, em tom fatídico. E que tenho uma colega de trabalho que é uma jibóia. E que para a maioria das pessoas uma vida confortável é mais importante do que uma vida com amor. E que tenho de fazer novamente análises. E que estava enganada ao pensar que, com a idade, vinham as certezas. Pelo contrário...
E isso assusta e entristece-me.

Souvenir sem nome:


As pessoas deviam, pura e simplesmente, estar proibidas de nos desiludir...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Inesgotável perda:

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“Por um instante a morte soltou-se a si mesma, expandindo-se até às paredes, encheu o quarto todo e alongou-se como um fluido até à sala contígua, aí uma parte de si deteve-se a olhar o caderno que estava aberto sobre uma cadeira(...). Então aconteceu algo nunca visto, algo não imaginável, a morte deixou-se cair de joelhos, era toda ela, agora, um corpo refeito, e por isso é que tinha joelhos, e pernas, e pés, e braços, e mãos, e uma cara que entre as mãos escondia, e uns ombros que tremiam não se sabe porquê, chorar não será, não se pode pedir tanto a quem sempre deixa um rasto de lágrimas por onde passa, mas nenhuma delas que seja sua. Assim como estava, nem visível nem invisível, em esqueleto nem mulher, levantou-se do chão como um sopro e entrou no quarto."
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José Saramago
Intermitências da Morte,
páginas 158 e 159

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Souvenir revoltado:

é a prova que vivemos num regime fascista,
que limita liberdades como o acesso à profissão.

Fosse eu Norte-Americana e estaria a entrar,
neste preciso momento,
na Ordem dos Advogados com uma G3...

domingo, 13 de junho de 2010

Inesgotável confissão:

Souvenir político:

Discurso do Sócrates.

Inesgotável optimismo:


Ao menos serve para alfabetizar o povo:
Já todos sabem soletrar vu-vu-ze-la.

Souvenir económico:




"Somos um País de mendigos com carros dignos da Arábia Saudita."

(Medina Carreira)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Inesgotável exclamação:

“Oh! Aquele só porque tem pila pensa que manda em mim!”

(Dito com o delicioso sotaque alentejano da dona G., em pleno gabinete jurídico…)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Souvenir emprestado:

"Se me não fosse proibido revelar os segredos da minha prisão, far-te-ia tal narrativa que a menor palavra despedaçaria a tua alma, gelaria o teu sangue, faria saltar os teus olhos das suas órbitas como duas estrelas para fora das suas esferas, destruiria a harmonia da tua cabeleira simetricamente anelada e faria erguer em pé cada um dos teus cabelos, como dardos de porco-espinho furioso."


(Shakespeare, Hamlet)


Não me admira que as pessoas enlouqueçam na vida.

Admira-me o contrário.

Perante tudo o que podemos perder, num só dia.

Como a dignidade, por exemplo.

Sem ela, o ser humano deixa de ser simples. Tudo se torna complicado.

Ou como o amor.

Sem ele, a ternura rotula-se de perigosa. Tudo se torna desperdício.

Não me admira que, pelos outros, eu seja habilidosa e destemida. Tudo se torna possível.

Admira-me o contrário.

Quando tenho de lutar por mim.

Perco as forças.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Inesgotável indecisão:

Será que devo devolver as sandálias novas que usei hoje,
pela primeira vez,
apesar de estarem ensopadas no meu sangue?
Ou...
será que, em vez de devolvê-las, peço uns pés novos???

sábado, 5 de junho de 2010

Souvenir lamuriado:

Estou cheia de dores de costas, por causa de um mau jeito que dei a arrumar uma caixa (demasiado pesada...) numa prateleira (demasiado alta!).

E faltam 4 horas de trabalho ainda.

Apetece-me andar ao estalo.
Alguém se oferece?

Inesgotável justiça penal:

Depois de duas condenações em primeira instância (no Tribunal de Felgueiras, em 2007) e um recurso na Relação de Guimarães, o Supremo Tribunal de Justiça confirmou os 20 anos de prisão ao indivíduo que regou a namorada com gasolina, atiando-lhe fogo, de seguida.
O advogado da defesa vai recorrer para o Tribunal Constitucional.
O arguido permanece em liberdade.
Isto porque, após os factos, foi de imediato detido pela polícia, tendo ficado em prisão preventiva até Setembro de 2008, altura em que o prazo máximo para esta medida de coacção terminou.