Inesgotável final:

A sede indefinível de perfeição dilacera-me, num segredo mordido, a cada erro e engano que cometi.

Será possível regressar, depois de tudo, e recomeçar?

Souvenir terapêutico:

Inesgotável monstrice:

(My Girl, 1991)

Ou estou sozinha ou com poucos amigos.

Rodeada de pessoas torno-me num ser entendiado e irritadiço.

Souvenir lisboeta:

Dou por mim à procura dos teus olhos,

nos rostos que vejo nos transportes públicos.
Como se estivesse a um triz de te encontrar...

Inesgotável aborrecimento:

A puta da televisão de casa deixou de funcionar...

(Não é que eu veja televisão... mas agrada-me a possibilidade de poder escolher NÃO a ligar...)

Souvenir duvidoso:

Amizade entre ex-namorados... será possível?

Inesgotável verdade:

Maybe you have to leave

in order to figure out your starting point.

Souvenir em contagem decrescente:

A escassas horas de terminar o ÚLTIMO DIA no mundo da moda, dou por mim com um nervoso miudinho a latejar-me os pensamentos.

Foram meses e meses a cumprir um objectivo, sem folgas nem férias.

Finalmente, o objectivo chegou a fim.

Cumprido!

Inesgotável convite:

Souvenir musicado:

"Play it once, Sam, for old times' sake."

...!

Entranho-te.
Como se fosses uma transfusão de vida que me percorre as veias, pelo avesso.
Estranho-me.
Como se fosse febre líquida, desfeita, a gerir a saudade.
Desmesurada.

Inesgotável pedido:

Por favor, sê feliz.
A partir de AGORA.
Tu mereces a agitação da vida.

Eu preciso da clausura da consciência.

Souvenir de Outono:

"Desde que sinta a brisa fresca no meu cabelo,

e veja o sol brilhar forte nas folhas,

não irei pedir por mais.

Que melhor coisa podia o destino dar-me?"

(Ricardo Reis)

Inesgotável regresso:

À Faculdade de Direito de Lisboa,
para ir buscar o certificado da licenciatura.

Cheira a cerveja, os funcionários estão com olheiras, os caloiros guincham de entusiasmo em cima de ténis da Timberland, os supostos veteranos têm um ar inculto e oco, a Biblioteca está fechada porque ainda ninguém chegou e há Plasmas espalhados pelas paredes com spots publicitários das festas da Associação Académica.

E pensar que, durante anos, este foi o meu mundo.
Agora só quero ter o certificado e pirar-me!...

Souvenir futuro:

I won't search you anymore.
But I will search for you in every man...

Inesgotável civismo:

Nome: Ezequiel Lino.

Cargo: Ex-Presidente da Câmara de Sesimbra.

Actual Adjunto do autarca de Oeiras, Isaltino Morais.

Facto: Detido, a 10 de Setembro, por agredir a pontapé e à dentada um agente da PSP.

Motivo: Terem rebocado o carro da sua filha, um Volkswagen Polo descapotável, por estar estacionado em cima da passadeira, na rua José Diogo da Silva, em Oeiras.

Souvenir poético:

"O meu mundo não é como o dos outros!
Quero demais, exijo demais.

Há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante que nem eu mesma compreendo.

Pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada,
com uma alma intensa, violenta, atormentada.

Uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade...
sei lá de quê!"

(Florbela Espanca)

Inesgotável susto:

A Gata Maria.

Que ontem ia desta para melhor, ao ser atropelada.

Mas que, milagrosamente, escapou ilesa.

Depois foi vê-la a um canto, silenciosa.

E de olhos fechados.

Como quem agradece a Deus a dádiva da vida...

Souvenir familiar:

Pois então sou, a partir de agora, a única mulher solteira da família.

E com livros da Anita no quarto.

E sapatilhas de bailarina...

Inesgotável data:

To Sílvia and Scott,

who are starting, today, the greatest adventure of their lives.

Souvenir ternurento:

Boa noite para ti, onde quer que estejas!

Inesgotável horário:

Tenho 11 horas de trabalho no lombo.

Falta aspirar o estaminé, pendurar as provas de roupa de amanhã e fazer a caixa.

Estou quase a dormir em pé.

Felizmente, já só faltam 8 dias!...

Inesgotável crise:

O Governo vai fazer o TGV!

As empresas necessitam desta audácia e iniciativa.

E sempre se criam postos de trabalho.

...ah, espera... afinal a conjuntura económica não o permite.

Souvenir lisongeador:

Ela: Tenho um elogio para te fazer.

Ele: Diz-diz-diz...

Ela: Tens pernas de rapariga.

Ele: O quê? Estás a insinuar que sou feminino???

Ela: Estou a dizer que as tuas pernas são bonitas e torneadas... como as das raparigas!

Ele: Chamas a isso um elogio?

Ela: Sim, e dá-te por contente: inicialmente pensei em compará-las às ágeis pernas dos gafanhoto...

...!

Inesgotável leitura:

As 1735 páginas do Acórdão do Processo CASA PIA.

Estou a perder a capacidade de sorrir...

Souvenir alternativo:

Dá-me conforto cultivar a imagem de ser difícil e inacessível para os outros.
Porque é demasiado doloroso perceber que sou tão fácil quanto invisível...

Inesgotável desejo:

Apetecia-me um abraço.
Sem maldade.
Sincero.
No escuro.
Demorado.
E Terrivelmente TEU.

Souvenir vazio:

Ele.
Que a humilhou, anos a fio.
Que lhe chamou nomes.
Que a perseguiu na rua.
Que lhe apontou uma arma e ameaçou disparar.
Que lhe partiu a cabeça contra a parede da cozinha, numa longinqua noite de Natal.

Que, apesar de doente, não se mostra arrependido.

Ela.
Que vive amedrontada.
Que encontra conforto na rotina.
Que ama sem esperança.
Que esconde cicatrizes.
Que não gosta do Natal, por recordar aquele longínquo arrepio da morte.

Que, apesar de o saber doente, não se mostra entristecida.

Haverá algum dia solução?

Inesgotável vício:

Às colheradas.

E às escondidas...

Souvenir de cabeceira #2:

Karel Capek cria um frágil e desajeito ser, com um cérebro tão avançado quanto o do ser humano. A história começa com a descoberta dessas criaturas por um velho marinheiro, o Capitão Van Toch, numa ilha do Pacífico Sul. Incrivelmente espertas, as salamandras gradualmente perdem o medo de Van Toch e travam conhecimento. Ele ambiciona riqueza à custa da sua escravatura. Elas, apesar de dóceis, aprendem a comunicar - e revoltam-se...

Numa linguagem fluente e assustadoramente contemporânea, Capek leva os leitores a questionarem-se:
Se uma espécie animal tivesse atingido este nível a que chamamos civilização, será que cometeria os mesmos absurdos que o Ser Humano?

...!

Agora sou uma mulher normal, com sentimentos agradáveis...

Damn!

Inesgotável realidade:

O que vale é que fez,

em Sá Fernandes,

um amigo para a vida...

Souvenir televisivo:

("Hard Candy", 2005)Ele foi considerado CULPADO em primeira instância, depois de ouvidas testemunhas e vítimas, realizados exames médicos e psicológicos, e analisados todos os factos por um colectivo de profissionais de Direito, anos a fio. A seu favor, tem uma petição de 306 assinaturas (God... para quê mesmo?!...) e uma professora de Braga que confirmou telepaticamente a sua inocência.

Ele atribuiu a sua condenação ao excesso de mediatismo jornalístico que os meios de comunicação televisivos fizeram. Mas aparece agora num canal público a dar entrevistas...

Hum...

Inesgotável discurso:

(imagem humorística daqui)

"A clareza e a frontalidade são um factor de estabilidade para a democracia."

(Manuel Alegre,

no seu discurso de abertura da campanha eleitoral para as Presidenciais.)

Sou só eu que acho que a democracia para ser estável precisa de... muito mais???

Snif, snif... Preferia quando o olhinho azul era só poeta...

Souvenir para Ti:

Inesgotável recordar:

...!

...!

(Quadro de Klimt)

"Como ferve o coração!

Parece que domina a vontade de verter todo o nosso coração,

e todo o nosso corpo,

no coração e corpo do outro..."

Fiodor Dostoievski

Souvenir sociológico:

Inesgotável sentimento:

("Wings of Desire", 1987)

"A única maneira de nos livramos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas leis tornaram monstruoso e ilegal..."

Oscar Wilde

Souvenir deprimido:

Diz que hoje é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.

Dei por mim a relembrar aquela tarde, e o teu último olhar.

Nunca percebi se foi por te teres zangado de te interromper.
Ou se foi uma expressão de desilusão, porque não cheguei a tempo...

Inesgotável ruindade:

E meter o norte-americano, tresloucado (que quer queimar cem exemplares do Corão amanhã), no Parque Natural da Serra da Estrela, enquanto as labaredas lembram o conceito religioso (e não bíblico) de Inferno?

Souvenir vizinho:

A Chica* é uma cadelinha bébé arruivada que, a partir de agora, é minha.

Tudo porque os filhos da puta do lado resolveram que afinal já não querem um brinquedo vivo que choraminga de noite, por estar sozinha no quintal, sendo a única solução viável abrir o portão, para ela se perder ou ser atropelada...

* aceitam-se sugestões para um novo nome

Inesgotável ideia:

Já que estão na moda as garrafinhas de água com sabor a chá de ervinhas ou a frutinhas citricas, bem que os gajos podiam inventar água com sabor a caipirinha.

Ou vodka laranja.

Souvenir comparativo:

É por existir vida que há morte.
É por existir amor que há ódio.
É por existir alegria que há tristeza.
É por existir riqueza que há fome.
É por existir conhecimento que há ignorância.
É por existir tempo que há pressa.
É por existir som que há silencio.

Inesgotável incerteza:

("Eternal sunshine of the spotless mind", 2004)

A felicidade.
Todos aspiramos à felicidade.

Construimos um projecto estável de vida baseado nesse conceito indefinido.
No entanto, a incomplitude paira.

Como um grito rouco.
E a vontade de correr, no meio da estrada, contra os carros e na direcção dos comboios, ressurge.
E a felicidade, outrora certeza, torna-se dúvida, angústia, desejo, segredo insuportável, vislumbre de paraíso.

Instabilidade apetecível na adrenalina de um beijo.

Souvenir cronológico:

Há 25 anos que nasci... e continuo à tua espera.
Será que demoras?

Inesgotável mudança:

Dizem as revistas femininas que, a partir de amanhã, tenho de trocar os leites de limpeza a cheirar a talco de bébé por cremes gordos reafirmantes.
Soa-me a praga rogada.
E, qual gata borralheira, aguardo o soar das doze badaladas da meia-noite, que me tornará numa velha. Das flácidas. Que olha, com inveja e desconfiança, para as crianças, enquanto rosna com dore ao arrastar as pernas, pejadas de ramificaçoes escuras, em pegadas curtas de sandálias ortopédicas.

Souvenir para um amigo #1:

Estimado Menino-Documental,

Correndo o risco deste texto não ser lido por ti a tempo, impõe-se que te transmita, com aquela sinceridade que só os irmãos compreendem, que prefiro que fiques.
Poderia argumentar que confio que as tuas capacidades fora do comum certamente te vao trazer mais oportunidades. Ou lembrar-te que és novo, e que para alguém da tua idade o que tens é já tanto. Também podia alertar-te para as estatisticas da tua area profissional. E para a estabilidade que agora vives.

Convencer-te, no fundo, que é melhor, PARA TI, ficares.

Mas, na verdade, é apenas por puro egoísmo que tomo esta decisão.
Porque não te quero perder.
Sobretudo agora, que me começas a conhecer.

Como familia.