Inesgotável ódio de estimação #4:

Colegas de trabalho que mentem descaradamente para salvar o coiro preguiçoso.

Souvenir de moda, maquilhagem e má educação:

E com isto me sinto tentada a dedicar mais tempo ao meu lado fútil que dói feminino...

Inesgotável vício:

Beber café à hora de almoço. Rir dos pequenos nadas que arreliam a rotina estranha do trabalho. Provar sabores de gelados, de graça. E observar o mundo, sentada na janela do restaurante de arte que dá para a estrada movimentada. Na esperança que Deus por lá passe...

Souvenir no comboio:

A senhora que, às 23 horas,

deglutinou dois magnum amêndoa

e uma embalagem de presunto

que a fez arrotar como um bébé.

Ou como um camionista.

...!

Inesgotável dieta:

Devia ser proibido filhos serem maltratados pelos pais.

Ou simplesmente ignorados, como se as suas vidas, irrepetíveis e únicas, não fossem valiosas.

Velhos não deviam ser abandonados à sua sorte, ou ao silêncio das famílias atarefadas demais para reconhecerem que definhar, de fralda, ao som de Nina Simone, é heróico.

Devia ser humanamente impossível crianças serem violadas. Pobres serem explorados. Chefes serem incompetentes. Os animais serem barbaramente mortos para degustação humana.

As famílias não deviam ser desfeitas, mas um núcleo imutável de perdão, afecto e cumplicidade.

O bem devia vencer o mal. O amor vencer o medo. A compaixão vencer a ganância.
E a boca da pessoa amada não devia beijar outros lábios, à nossa frente.

Souvenir futurista:

E agora?

...!

A invejar o sucedido hoje à mulher do comboio.

Precisa-se urgentemente

de doses industriais de barrinhas kinder,

esparregado, afecto e uma ida a Londres.

Não necessariamente por este ordem.

Inesgotável década:

"Com licença, eu vou beijar o céu."
Jimi Hendrix

Jo, olá.

Faz hoje 10 anos.

E, à distância de um oceano entre nós, e de um telefonema entre vocês, nos minutos seguintes o vosso futuro ruiu.

É estranho que hoje eu o conheça, e que te escreva estas frases, sem nunca nos termos cruzado.

Mas, mais estranho ainda, é ele ser uma daquelas raras pessoas a quem a vida atropelou com tudo, e que, mesmo assim, se mantém amável e disponível.

Obrigada por, quando partiste, não o teres levado por completo.

A sua amizade fez-me bem.

Souvenir corajoso:

Inesgotável cronologia:

Faltam 4 para os 30...

Souvenir memorável:

Inesgotável criancice:

Tenho um pequeno peluche em formato hipopótamo, cor-de-rosa e azul clarinho, com uma beiçola risonha enorme, e cheiro sereno e viciante. Para que eu não me esqueça do que é importante.
Ainda que feito de recordações doces ou de sonhos impossíveis.

...!